quinta-feira, maio 29, 2008

Umbanda - PRETO VELHO : PIEGAS ?

Recentemente tive a oportunidade de lêr um ensaio do médium espírita Divaldo Franco, onde em um de seus tópicos ("Consciência") referentes à educação mediúnica, se refere ao espírito do Preto Velho como algo PIEGAS, remanescente também do pieguismo oriundo da cultura africanista:

"... Na cultura brasileira, remanescente do africanismo, há uma postura muito pieguista, que é a do preto velho. E muitas pessoas acham que é sintoma de boa mediunidade ser intrumento de preto velho. Quando lhe explicamos que não há pretos velhos, nem brancos velhos, que todos são Espíritos, ficam muito magoadas, dizendo que nós, espíritas, não gostamos de pretos velhos. E lhes explicamos que não é o gostar ou não gostar. Se tivessem lido em O Livro dos Médiuns, O Laboratório do Mundo Espiritual, saberiam que se a entidade mantém determinadas características do mundo físico, é porque se trata de um ser atrasado. Imagine o Espírito que manquejava na Terra, porque teve uma perna amputada, ter de aparecer somente com a perna amputada. Ele pode aparecer conforme queira, para fazer-se identificar, não que seja o seu estado espiritual. Quando, ao retornar à Pátria da Verdade, com os conhecimentos das suas múltiplas reencarnações anteriores, pode apresentar-se conforme lhe aprouver.

Então, a questão do preto velho é um fenômeno de natureza animista africanista, de natureza piegas. Porque nós achamos que o fato de ter sido preto e velho, tem que ser Espírito bom, e não é. Pois houve muito preto velho escravo que era mau, tão cruel quanto o branco, insidioso e venal. E também houve e há muito branco velho que é venal, é indigno e corrompido. O fato de ter sido branco ou preto não quer dizer que seja um Espírito bom.

Cabe ao médium ter cuidado com esses atavismos, e quando esses Espíritos vierem falando errado, ou mantendo os cacoetes característicos das reencarnações passadas, aclarar-lhes quanto à desnecessidade disso. Porque se em verdade, o preto velho quer falar em nagô, que fale em nagô, mas que não fale um enrolado que não é coisa nenhuma. Ou, se a entidade foi alemã na Terra e não logre falar o idioma do médium, que fale alemão, mas que não fale um falso alemão para impressionar. O médium só poderá falar o idioma no qual ele já reencarnou em alguma experiência passada.
Desde que não há milagres nem sobrenatural, o médium é um instrumento. Sendo a mediunidade um fenômeno orgânico, o Espírito desencarnado vai utilizar o que encontre arquivado no psiquismo do médium, para que isto venha à baila. "

Retirado do Livro: Mediuns e Mediunidades pelo espírtio Vianna de Carvalho (medium Divaldo Franco) Parte II - Requisitos para educar a mediunidade

O que verificamos nesse texto um tanto controverso de Divaldo Pereira Franco, é uma visão um tanto prosélita descambando para visões um tanto européias e arcaicas como logravam na era de Allan Kardec. O médium acerta quando diz ser uma visão remanescente de uma cultura africanista, mas graças a Deus o Brasil é um país livre e que abraça uma série de culturas diversificadas, tendo em sua maioria os negros, contribuído essencialmente para a edificação dessa cultura. De certo, a espiritualidade em sua magnitude plena comandada pelo arquiteto Mor, despoja-se de qualquer roupagem racial ou social, mas isso não invalida de forma alguma a natureza das comunicações de espíritos que ainda necessitam, de forma proposital ou não, se apresentarem dessa maneira. Divaldo, pessoa bastante eloqüente e que se faz valer das "rosas" que saem de sua boca, aliado ao seu poder extremo de persuasão, lembra mais um daqueles senhores que ficaram ricos vendendo produtos da "Amway", e que agora pregam seus testemunhos. É vero que sua compreensão e seu conhecimento adquirido após ter devorado as obras de Kardec são suas armas, agora a contestação do legítimo através de combinações de palavras é o que temos de VIGIAR, como tanto ele assim o prega! De maneira não diferente, após ter ouvido e assistido a algumas palestras do médium, a minha impressão é de que o próprio Divaldo carece no conhecimento mais amplo da questão espiritual, sendo ele cercado e encerrado em um pieguismo particular - parafraseando o próprio - bastasse que desse um pouco mais atenção aos fatos históricos que marcaram o surgimento da Umbanda de maneira formal nas plagas brasileiras. De maneira contraditória porém, reage o médium que de tanto se vale de Allan kardec, que no post anterior, reconhece e reavalia seus próprios pensamentos espiritualistas, com base nas palavras de um preto-velho. Em nenhum momento, como tenta desviar Divaldo, dizemos que a priori um espirito dessa natureza é bom ou ruim, da mesma maneira que não pré-julgamos um espírito que dê sua comunicaçõa dentro de um centro kardecista com o bom um ruim.
Em meu entendimento, e pelo conhecimento acumulado através única e exclusivamente da prática mediúnica, vos digo que a vestimenta de "preto velho" é unicamente o morfismo com que o espírito por trás daquele, utiliza-se naquele instante para que possa alcançar a seu objetivo, dando a oportunidade de uma comunicação mais direta, e sem as POMPAS e LUXOS que vemos em alguns lugares que não centros espíritas que praticam a Umbanda preconizada pelo Chefe Caboclo das 7 Encruzilhadas. Atavismos à parte, é preciso que nós médiuns ou não, vigiemos o que nos circunda, e que possamos através de nossa bondade e caridade divina que nós é conferida, aceitarmos a todos os espíritos que vierem a nosso encontro para comunicação ou conforto, como os olhos do coração e da caridade a qual Deus nosso pai assim nos concede. Esse é apenas um alerta. Meu saravá fraterno. Mestre Azul

quarta-feira, maio 28, 2008

Umbanda - Preto Velho & Kardec

PRETO VELHO FALA COM KARDEC

Pouca gente sabe, mas numa das reuniões realizadas na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, Allan Kardec evocou um Espírito que, segundo as terminologias da cultura brasileira,
poderia ser classificado como um “preto velho”. Esse encontro, narrado pelo próprio Kardec nas páginas da sua histórica “Revista Espírita” (Revue Spirite), de junho de 1859, aconteceu na reunião do dia 25 de março daquele mesmo ano. Pai César – este o nome do Espírito comunicante – havia desencarnado em 8 de fevereiro também de 1859 com 138 anos de idade – segundo davam conta as notícias da época –, fato este que certamente chamou a atenção do Codificador, que logo se interessou em obter, da Espiritualidade, mais informações sobre o falecido, que havia encerrado a sua existência física perto de Covington, nos Estados Unidos.
Pai César havia nascido na África e tinha sido levado para a Louisiana quando tinha apenas 15 anos.
Antes de iniciar a sessão em que se faria presente Pai César, Allan Kardec indagou ao Espírito São Luís, que coordenava o trabalho, se haveria algum impedimento em evocar aquele companheiro recém-chegado ao Plano Espiritual. Ao que respondeu São Luís que não, prontificando-se, inclusive, a prestar auxílio no intercâmbio. E assim se fez. A comunicação, contudo, mal iniciada, já conclamou os participantes do grupo a muitas reflexões. Na sua mensagem, Pai César desabafou, expondo a todos as mágoas guardadas em seu coração, fruto
dos sofrimentos por que passara na Terra em função do preconceito que naqueles dias graçava em ainda maior escala do que hoje. E tamanhas eram as feridas que trazia no peito que chegou a dizer a Kardec que não gostaria de voltar à Terra novamente como negro, estaria assim, no seu
entendimento, fugindo da maldade, fruto da ignorância humana. Quando indagado também sobre sua idade, se tinha vivido mesmo 138 anos, Pai César disse não ter certeza, fato compreensível, como esclarece o Codificador, visto que os negros não possuíam naqueles tempos registro civil de
nascimento, sobretudo os oriundos da África, pelo que só poderiam ter uma noção aproximada da sua idade real.
A comunicação de Pai César certamente ajudou Kardec, em muito, a reforçar as suas teses contra o preconceito, o mesmo preconceito que o levou a fazer, dois anos depois, nas páginas da mesma “Revista Espírita”, em outubro de 1861, a declaração a seguir, na qual deixou patente
o papel que o Espiritismo teria no processo evolutivo da Humanidade, ajudando a pôr fim na escuridão que ainda subjuga mentes e corações: “O Espiritismo, restituindo ao espírito o seu verdadeiro papel na criação, constatando a superioridade da inteligência sobre a matéria, apaga naturalmente todas as distinções estabelecidas entre os homens segundo as vantagens corpóreas
e mundanas, sobre as quais só o orgulho fundou as castas e os estúpidos preconceitos de cor.”

fonte: SERVIÇO ESPÍRITA DE INFORMAÇÕES ed. nº 2090 (19/04/2008)

Nota Mestre Azul:

Não obstante, é claro verificar o preconceito que existia da sociedade européia de fato na época do fato narrado. Não me surpreende também, o epiritismo, doutrina derivada da sociedade européia vigente daqueles tempos, e codificada por Kardec, a priori, ter qualquer preconceito com relação a espíritos que diferissem dos moldes por eles preconizados pela era européia contemporânea. Ora, não deveria sequer se dar tamnha ênfase nessa comunicação deveras ordinária por Kardec, haja visto que a única diferença, tratava-se pela origem humilde e racial do espírito comunicante. Seria de mesmo modo, como se a Umbanda se maravilhasse quando um espírito de um nobre europeu fizesse comunicação em uma de suas sessões. Saravá!